O presidente já demonstrou querer barrar qualquer progresso nas questões nuclear e climática

Há 70 anos o Boletim dos Cientistas Atômicos monitora as ameaças nucleares sofridas pelo planeta. A cada edição, o “relógio do fim do mundo” é atualizado, mostrando quão próximo estamos de um possível apocalipse nuclear — de uns tempos pra cá, eles também têm levado em conta a forma como a humanidade lida com as mudanças climáticas. Estas são, com razão, as duas maiores ameaças à nossa sobrevivência.
Pela primeira vez, desde 1953, os ponteiros estão assustadoramente perto da meia-noite, que indica o fim. Na década de 1950, o ápice se deu por conta dos testes das primeiras bombas termonucleares realizados pelos EUA e pela Rússia. Com a corrida nuclear, os ponteiros marcaram 23:58.
O motivo de em 2017 os ponteiros estarem cravando 23:57:30 é a ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, para quem uma das prioridades máximas parece ser barrar qualquer progresso tanto na questão nuclear quanto na climática.
Como lembram os articulistas Lawrence Krauss e David Titley no The New York Times, “Trump tem feito comentários irresponsáveis sobre a expansão e a implantação do arsenal nuclear norte-americano, tem expressado descrença em relação ao consenso científico do aquecimento global e mostrou uma preocupante propensão a rejeitar uma consultoria especializada relacionada à segurança internacional. Além disso, seus indicados para ocupar a chefia do Departamento de Energia, da Agência de Proteção ao Meio Ambiente e do Escritório de Administração e Orçamento têm contestado ou questionado as alterações climáticas”.
Outros fatores que contribuem para o avanço dos ponteiros são: a dúvida em relação aos programas nucleares de países como Coreia do Norte e Irã; a relação cada vez pior entres os EUA e a Rússia, que possui mais de 90% das armas nucleares do planeta; as incertezas em relação ao Acordo de Paris.
O presidente Trump já demonstrou pouca propensão em reconsiderar sua posição em relação a estes assuntos problemáticos. Só nos resta esperar que o relógio não precise chegar à meia-noite para que ele — ou o planeta — peça ajuda.