Veleiro com 36 ativistas de 13 países diferentes sai da cidade de Amsterdã, na Holanda, nesta quarta-feira (2). Expectativa é chegar ao Rio no meio de novembro e seguir de ônibus até Santiago do Chile, onde acontece a COP25.

Um grupo de 36 jovens de 13 países diferentes vai atravessar o Atlântico num veleiro para chegar até a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP25). Inspirados pela jovem sueca Greta Thunberg, os ativistas partem nesta quarta-feira (2) de Amsterdã, na Holanda, em uma jornada para chamar atenção do mundo para os efeitos da aviação nas mudanças climáticas.
O objetivo é chegar até a COP25, que começa em Santiago no dia 2 de dezembro, sem usar avião. Para isso, eles devem velejar por pelo menos sete semanas, cruzando o Atlântico, até o Rio de Janeiro, de onde seguem viagem de ônibus para a capital chilena.

O Chile foi escolhido para sediar o encontro internacional depois da desistência do Brasil, que anunciou em novembro de 2018 que não abrigaria mais o evento. Em 2017 o governo brasileiro havia se oferecido para ser anfitrião das negociações.
O grupo Veleje para a COP (Sail to the COP, em inglês) conta com ativistas ambientais de 18 a 31 anos. Pelo menos 1/3 deles não tem experiência alguma com veleiros. Apesar disso, todos os participantes da expedição devem ajudar a pilotar o barco, em turnos de 6 horas a cada dois dias.
Além disso, cada um deve dedicar cerca de 4 horas por dia ao desenvolvimento de ações para mitigar os efeitos do aquecimento global. Os resultados serão apresentados em um evento organizado pelo grupo, paralelo à COP25.
Velejando pela primeira vez
Uma das participantes do grupo, a holandesa Rosa Hofgärtner, de 25 anos, vai viajar de veleiro pela primeira vez na vida e define a experiência como algo "animador, mas também assustador".
"Temos muitos participantes que já velejaram antes e também um capitão muito experiente. Vamos descobrindo tudo enquanto viajamos", explica Hofgärtner. Ela participou de um workshop sobre a vida a bordo onde aprendeu o básico e recebeu instruções do que levar na viagem.

A experiência de ficar pelo menos oito semanas em um barco, sem acesso à internet e com mantimentos limitados, é vista como inspiradora pela jovem, que é estudante e pesquisa a ciência por trás das mudanças climáticas em seu país natal.
Dois anos atrás, Rosa resolveu deixar de voar de avião, mas não acredita que essa seja uma atitude que todos possam replicar. "É um movimento simbólico. Nós vamos navegar até a COP enquanto todos os líderes vão de avião até lá", avalia.
"Nós não acreditamos que todo mundo deva atravessar o oceano num veleiro, mas queremos mostrar que às vezes há opções ao avião, especialmente ônibus e trens", explica a estudante Rosa Hofgärtner.
Para o grupo, a falta de alternativas para viajar de um lugar para outro sem depender do avião só mostra como o mercado de transportes ainda precisa evoluir para acompanhar a velocidade do aquecimento global. Segundo Rosa, as maiores mudanças não vêm de atitudes individuais, mas de pressões políticas.
"O que eu mais gosto no nosso movimento é que ele não é individual, ele é político. Nós queremos chamar atenção para um problema maior e pressionar políticos e empresas a tomar atitudes", diz.
Apoio logístico
Moon Weijens, 25, é uma das viajantes que tem experiência em navegação e vai ajudar o resto do grupo durante a jornada. No ano passado, ela atravessou o oceano num veleiro para chegar até Suriname, onde participou de um fórum para discutir o uso sustentável da água.
Além de ajudar os participantes a velejar, Weijens também teve um papel importante na organização da viagem, que teve início no meio do ano passado. Junto com outros membros ela conseguiu apoio de patrocinadores importantes, como a empresa ferroviária nacional da Holanda, que custeou as passagens de trem de todos os viajantes.

"Além do apoio dos parceiros, nós também fizemos uma campanha de crowdfunding que arrecadou 25 mil euros em doações e pedimos que cada participante da viagem contribuísse com uma quantia própria para ajudar financiar a viagem", diz Weijens.
Nenhum dos 36 integrantes da jornada foi de avião até a cidade de Amsterdã, de onde sai o veleiro. Para chegar lá, alguns encararam viagens de vários dias saindo de países como Marrocos e Grécia, usando transportes como trens, ônibus e ferries.
Por conta das dificuldades de navegação, o grupo não vai velejar até Santiago, onde acontece a COP25, mas até o Rio de Janeiro. Antes de chegar na capital fluminense eles fazem paradas em Casablanca, no Marrocos, em Tenerife, nas Ilhas Canárias, e em Recife, no estado de Pernambuco. Do Rio de Janeiro eles pretendem seguir de ônibus até o Chile. Para este trecho final da viagem, eles ainda estão em busca de patrocinadores.
"Nós não podíamos comprar passagens de ônibus do Brasil para o Chile porque não sabemos ainda em que dia exatamente vamos chegar ao Rio. Tudo depende dos ventos e das condições climáticas que vamos encontrar durante a navegação", explica Weijens.
Além de acompanhar a COP25, em Santiago, o grupo também vai participar da Conferência da Juventude (COY15), que acontece em Valparaíso poucos dias antes da COP e deve reunir jovens de todo o mundo interessados no ativismo ambiental.
Impacto da aviação
Apesar de incluir ativistas que militam por diferentes causas, a principal preocupação do grupo Veleje para a COP é a emissão de gases do efeito estufa na indústria da aviação.
Por meio da viagem e da participação na conferência os jovens querem chamar atenção para os impactos negativos das viagens de avião no planeta. O sonho deles é fazer com que o acesso a meios de transporte seja menos desigual, tornando mais barato, mais fácil e mais atraente escolher opções de locomoção sustentáveis, como trens, ônibus e bicicletas.

O grupo argumenta que, ainda que atualmente apenas 2,5% das emissões mundiais de CO2 venham de aviões, o impacto total da indústria da aviação no aquecimento global é de cerca de 5%, por conta da emissão de outros gases poluentes. Além disso, a previsão é que as viagens de avião dobrem nos próximos 20 anos, o que deve aumentar a parcela para mais de 10% até 2045.
Outro argumento dos jovens é que o mercado da aviação concentra uma grande quantidade de emissão para benefício de poucas pessoas: apenas 18% da população mundial já viajou de avião, segundo o grupo, o que demonstraria a desigualdade no acesso ao meio de transporte.
Aspirantes a Greta
Muitos dos participantes são famosos em seus países por liderarem passeatas em defesa do meio ambiente, inspirados pela jovem sueca Greta Thunberg, de 16 anos.
Um desses líderes é a belga Anuna de Wever, de 18 anos, que organizou marchas que reuniram milhares de jovens em seu país. Em maio, quando o cacique Raoni foi à Europa visitar diversos políticos locais, de Wever estava ao lado do prefeito de Bruxelas, Philippe Close, para receber o brasileiro na sede do município.
"Essa viagem de veleiro é importante porque nós estamos mostrando como é inacreditável que o avião seja a única forma de se locomover pelo mundo", diz de Wever.
Outra jovem ativista que vai se juntar ao grupo é Ines Bakthaoui, de 22 anos. Estudante de um programa de mestrado em aquecimento global, a francesa participa do secretariado da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, onde ajuda a estudar impactos e perdas relacionadas às mudanças climáticas.
"Com o projeto, eu pretendo levar uma mensagem importante pro mundo: que cada pequena ação conta e contribui para grandes mudanças", diz.